domingo, 6 de junho de 2010

Não havia motivo de lágrimas.
Talvez até houvesse motivo, mas a água de dentro dos olhos não saía mais, ficara empoçada no fundo.Ela conseguia sentir, no começo, uma onda quente subindo pelo peito, passando apertada pela garganta, rompendo caminho pelo dentro, para procurar saída. Porém o rosto ficava vermelho, e ela timidava (a garganta segurava um bolo doído de vontade de chorar, que ficava só vontade).
A emoção ainda se fazia forma concreta, e vinha anunciada, nesse tempo de antes, bem antes de o tempo se arrastar insensível e a constante falta de coragem se transformar em falta de todos os motivos para permitir as lágrimas lhe lambendo o rosto livremente.
Um dia se deu conta disso: " Não sei mais como se chora".
E se pudesse, teria chorado por essa constatação.
É um bocado mais confortável não se romper em momentos de efusão sentimental, principalmente em público.As pessoas geralmente têm essa necessidade de tratar qualquer gotinha que sai dos olhos como motivo para consolar quem quer que seja, mesmo se nem toda gota que pinga do tal canalzinho lacrimal for filha de um grande problema.Lágrimas desconcertam.
Um dia ela conheceu um moço que chorava muito. Invejava, de certo modo, como ele conseguia jorrar a alma para o lado de fora da pele do rosto, sem fazer força alguma.Não era só o choro em si, mas toda a sua maneira de ser que era assim, verdadeira, cheia de curvas e canteiros de flores.
Ela não sabia bem de nada disso.Costumava ser bem mais seca, e exibia uma casca de expressão imutável, acima de qualquer suspeita de que sua alma se enrolava toda do lado de dentro.
Um dia ele a abraçou.
E ela sentiu de novo aquela bolota querendo subir pela garganta e fazendo pressão dentro da sua cabeça com a sensação quente dos olhos formigando....
 Tocou as pálpebras com a ponta dos dedos, vacilante, e sentiu o toque geladinho da gota de água se evaporando na sua pele, o sal restando.
 Como o chover sobre pedras de uma calçada suja.

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